sábado, 5 de fevereiro de 2011

Flashes 18


Favela do Jacarezinho. Campeonato entre bocas de fumos. Cada chefe da boca montava seu time. E, para ostentar, os times desfilavam uniformes lindos. Tinha um que usava o conjunto completo do atlético mineiro (camisa, short e meião), outro do flu, botafogo, etc.

O meu, era o time do "campo do abóbora" (não me perguntem o porquê do nome).  Nosso uniforme era produzido só para o campeonato. Advinhem a cor? Preto e branco (não me perguntem o porquê).

Eu, com aproximadamente 16 anos, saí de casa por volta das 19 horas. Peguei o metrô e saltei na estação Maria da Graça. De lá até o campo, caminhei, talvez uns 20 minutos, entre ruelas e bocas de fumo. Tudo era vendido e consumido na frente de todos, sem constrangimento. Local escuro. Eu, feliz da vida - e sem noção de perigo -, fui me informando, com traficantes e moradores, onde era o campo. Fui chamado pelos meus amigos do Olaria, que moravam no Jacarezinho, e queriam que eu reforçasse o time do abóbora.

Chego e a partida já havia começado. Tomo um esporro,  troco de roupa correndo, e entro no campo. Pra compensar o atraso, e tentar entrar logo no ritmo do jogo - que pegava fogo -, iniciei marcando muito firme, reclamando com o juiz e fazendo outras fanfarronices. Afinal, era mata-mata.

Até que, num determinado momento: faço uma falta forte, sequer peço desculpas, e ainda reclamo com o juiz. O árbitro, ao invés de me advertir com cartão, fez algo muito mais eficaz. Colocou a mão no meu ombro e disse, em tom assustadoramente calmo: "Filho, acho bom você chegar devagar. Você não está em casa, não. Abre o olho!" 

Foi quando olhei ao redor e vi que realmente não estava em casa. O campo estava lotado de gente - com fuzil, pó, pistola etc, e me olhando com caras nada amigáveis.  Entendi o recado!  Murchei totalmente, passei a jogar como uma lady. Perdemos o jogo. Não quiz nem ficar pra churrascada (e outras coisas) grátis que rolava depois das partidas. 

Fui embora da favela. Foi lá que aprendi a chegar devagar, pois jacaré com abóbora dá caganeira!

2 comentários:

Anônimo disse...

Meu Deus... essas histórias me assutam cada vez mais hauahuahau cada hora vc vem com uma mais bizarra que a outra.. quando eu acho que não dá para ser pior.. vc se supera!

Taiyo Jean Omura disse...

huahuahauahu