quarta-feira, 23 de julho de 2014

Amigo

 
Essa semana comemoramos o dia do amigo. Momento bom para pensar que tipo de amigo somos. Amizade num sentido amplo, de relacionamento.
A conscienciologia traz duas figuras exemplificativas de amigo: o cego e o amparador.
Cego é aquele que faz tudo por você. Te livra das furadas, não importa as consequências. Costuma ficar bem na fita.
Ao lado do cego você se ilude. Crente que está abafando, mas com alface no dente.
O amparador está mais preocupado com seu amadurecimento. É capaz de te fazer passar vergonha, se for importante para o aprendizado.
Me lembro de uma menina acostumada a se safar quando pega com drogas. Até que foi parada numa blitz. Seus pais se recusaram a subornar. Foi processada e condenada a prestar serviços numa comunidade carente. Vergonha geral!
Na pena, se apaixonou pelo serviço social e não parou mais. Se encontrou! “Imagina se eu tivesse subornado? Nem sei o que seria de mim... agradeço aos meus pais!” reconheceu.
E você, meu amigo, qual papel costuma desempenhar? Avisa ou não da alface no dente?

sábado, 19 de julho de 2014

Flashes 21


De férias no flamengo (ainda não tinha contrato) fui chamado para fazer parte da equipe de juniores do Joinville, que excursionaria à Itália objetivando vender jogadores. Aos 18 anos, para futebol, é uma idade tensa, de definição. Oportunidades cada vez mais raras!

O clube tinha cedido a categoria para um grupo de empresários escrotar, digo, explorar.

Nós, jogadores, vivíamos numa grande casa, que abrigava gente de todo Brasil! Me lembro que o café da manhã era pão, manteiga, mel, leite e café. E vamos pro treino!

No fim das contas se mostrou mais uma furada! Foram apenas dois ou três dias de estada, até os gênios do planejamento perceberem que não dava tempo para embarcar com o grupo, que estava fechado, inscrito, com visto no passaporte, etc.

Enfim, ao final do treino da tarde estava na calçada em frente a casa pensando na vida (sempre empolgado!) quando passa um carro bem devagar olhando pra dentro do imóvel... e me pergunta. "Fulano está aí?"     

"Não conheço" - respondo.

Ele vai; depois volta e pergunta por outro jogador - no que obtém a mesma resposta. Fiquei a meia distância observando um movimento intenso de carros... ao mesmo tempo uma euforia dentro da concentração. Muito jogador se arrumando, saindo, burburinho...

Estranhando aquele cenário pedi explicação a um colega. A resposta veio com o tom e a serenidade de uma mãe que explica ao filho porque o céu é azul.

- Eles vêm para buscar a rapaziada para dar uma "volta". Jantar, passear no shopping... no final dão um dinheirinho, um tênis novo e fica tudo certo!

O mais trágico era a normalidade de como tudo ocorria... fiquei constrangido de achar estranho! Apenas passei a olhar esquisito pra quem tinha tênis novo...

Como diria Januário de Oliveira (antigo narrador de futebol): Sinistro, muito sinistro! 

terça-feira, 15 de julho de 2014

Obrigado, Luiz Felipe



Vexame, humilhação, vergonha! Passado o susto vêm as análises da derrota brasileira: apostou em um esquema ultrapassado; demorou mudar; convocou quem não confiava; não tinha plano B, etc.

Felipão demonstrou humanidade.

Sem justificar, mas quem de nós nunca se baseou em acertos do passado para errar no presente? Quantas vezes insistimos com pessoas que, no fundo de nossa essência, não confiamos, mas mantemos por não querer acreditar no óbvio? Por medo das mudanças!

Levante a mão aquele que tem um plano B para modificar sua vida agora, mesmo sabendo que ela não está no melhor dos rumos!

Faz o quatro quem nunca fracassou. Quem nunca sentiu vergonha por ter errado. Perdido aquela chance de ouro. Decepcionado quem não merecia!

Quem nunca teve vontade de sumir por ter sido rejeitado?!?! Quem nunca ficou atônito, sem reação, vendo todos os seus conceitos, supostamente perfeitos, desmoronarem?!?!

Quem nunca foi de salvador da pátria a cocô-do-cavalo-do-bandido num piscar de olhos, que morda as orelhas!

Ou seja, Quem nunca tomou de sete a um em casa que atire a primeira pedra!

Felipão foi mais um Luis. Foi mais um ser humano.

Obrigado, Felipão, por nos lembrar a essência incerta de todos nós.

Vamos deixar de hexa-geros!

sábado, 12 de julho de 2014

Convidados 11

 
É a segunda vez (primeira foi em "Excelências à parte 5") que ela concede a honra de participar.  
 
Gabriela Marinho foi colega de escritório em 2011. Juntos fundamos o fã clube do Alexandre Câmara rsrsrs e colecionamos ótimas estórias. 
 
A mãe da Catarina e esposa do Cacá hoje arrebenta em seu escritório. Além da capacidade técnica, conjuga muito bem os estilos "ninguém-escapa-de-uma-boa-conversa" com "tiro-porrada-e-bomba!". Não a toa, já saiu ovacionada de assembleias.
 
A história é impressionante! Manda aí, Gabi.   
 
 
A JORNADA
 
CERTA VEZ, AINDA ESTAGIÁRIA DE DIREITO, FUI DESIGNADA ATÉ O FÓRUM REGIONAL DE MANGARATIBA PARA UM IMPORTANTE TRABALHO. ESTAVA NO 1º PERÍODO. PEGUEI UM TAXI EM DIREÇÃO À RODOVIÁRIA. COMECEI A PERCEBER QUE O TAXISTA CHORAVA COPIOSAMENTE, TENTANDO NÃO ME FAZER NOTAR A TAMANHA ANGÚSTIA QUE O ASSOLAVA.
 
- MOÇO, O SENHOR PODE ME DEIXAR AQUI MESMO. NÃO TEM PROBLEMA, PEGO OUTRO TÁXI. VEJO QUE O SENHOR NÃO ESTÁ BEM. 
 
E ELE PRONTAMENTE RESPONDEU:
 
- A SENHORITA VAI VIAJAR PRA AONDE? TE LEVO E TRAGO PELA METADE DO PREÇO DE SUA PASSAGEM, INDEPENDENTEMENTE DE SEU DESTINO. POR FAVOR NÃO ME ABONDONE TAMBÉM.
 
NA HORA PENSEI: "CRUZES, DEUS ME LIVRE IR A QUALQUER LUGAR COM ESSE HOMEM NESTA CONDIÇÃO. IMAGINA SE ELE É UM PSICOPATA E TENTA ALGUMA MALDADE COMIGO." MAS NO MESMO INSTANTE EM QUE NOSSOS OLHARES SE CRUZARAM ATRAVÉS DO RETROVISOR TIVE A CERTEZA DE QUE DEUS HAVIA ME COLOCADO NAQUELE ASSENTO POR UM PROPÓSITO QUE SEQUER MINHA MATURIDADE, AOS 18 ANOS IDADE, ENTENDERIA.
 
TOPEI E DISSE: VAMOS JUNTOS! ATÉ LÁ SEI QUE PODEREI AJUDÁ-LO EM SUA ANGÚSTIA E TENHO CERTEZA QUE NA VOLTA O SENHOR ESTARÁ BEM MELHOR, E EU SÃ E SALVA.
 
COM UM ÚNICO SORRISO DE CANTO DE BOCA, ELE ASSENTIU.
 
PARECENDO UMA LOUCURA, FUI DO RIO ATÉ MEU DESTINO OUVINDO SEU PROBLEMA:
 
- SABE MOÇA, TRABALHO NA PRAÇA HÁ 25 ANOS E PELO MESMO PERÍODO SOU CASADO COM A MULHER DA MINHA VIDA. NUNCA HESITEI EM AJUDAR NA CRIAÇÃO DAS CRIANÇAS, SER BOM MARIDO, E ATÉ NA CAMA NUNCA A DEIXEI NA MÃO. E OLHA, QUE JÁ TENHO MAIS DE 60 ANOS, HEIN?! POIS BEM, HOJE DE MANHA ME DESPEDI AVISANDO QUE SÓ VOLTARIA NO INICIO DA NOITE COMO FAÇO TODOS OS DIAS; MAS COM VONTADEDE SURPREENDE-LA, RETORNEI O QUARTEIRÃO E PONDEREI QUE SERIA ÓTIMO PASSAR O DIA TODO JUNTO A ELA. 
 
 (E AGORA ELE JÁ EM PRANTOS) SOLTOU O VERBO: 
 
- CHEGUEI “EM” CASA E VI TUDO APAGADO, SÓ OUVIA O APITO DA PANELA DE PRESSÃO DO FEIJÃO QUE COZINHAVA. QUANDO ENTREI NO QUARTO, LÁ ESTAVA ELA: FAZENDO AMOR COM UM DOS MEUS MELHORES AMIGOS. REALIZANDO COM ELE O QUE A MIM SEMPRE SE NEGOU A FAZER. MAS A SENHORA ACHA QUE FUI BOBO? NÃO DEIXEI QUE ME VISSEM, ENTREI NO CARRO E PENSEI EM BATER NO PRIMEIRO POSTE COM TODA A FORÇA. ASSIM ELA MORRERIA DE REMORÇO EM IMAGINAR QUE ENQUANTO EU SAIA PARA TRABALHAR, ELA ESTAVA ME TRAINDO.
MAS AÍ, A SENHORITA FEZ SINAL E POR ISSO RESOLVI QUE FAZENDO UMA VIAGEM COM UMA JOVEM CHEIA DE MOCIDADE ISSO TALVEZ ME TROUXESSE ALGUMAS HORAS DE REFLEXÃO E QUEM SABE NEM MATARIA MAIS, AFINAL SE EU REALMENTE BATESSE COM O CARRO COMO GOSTARIA, PROVOCANDO MINHA MORTE, PROVOCARIA A SUA TAMBÉM!
 
GELEIIIIIIIII!!!!!
 
CHEGANDO AO NOSSO DESTINO, REALIZEI MEU TRABALHO IMAGINANDO QUE DEPOIS QUE DESEMBARCASSE DO VEÍCULO ELE IRIA EMBORA NO INTUITO DE CUMPRIR A MISSÃO TRADUZIDA NA MAIS TEMEROSA DAS OUSADIAS: O SUICÍDIO! E EU COMO FICARIA SE SOUBESSE DISSO? TALVEZ JAMAIS ENTRASSE EM UM TÁXI NOVAMENTE.
 
QUANDO JÁ NA RUA E O VI PARADO DENTRO DO CARRO, MEU CORAÇÃO TRANSBORDOU DE PAZ E IMAGINEI QUE ALÉM DO MEU TRABALHO, ESTAVA OPERANDO A AJUDA DE UM DESESPERADO QUE SE DEBRUÇOU NA JOVIALIADADE DE UMA RELES ESTAGIÁRIA QUE TALVEZ TODO O MEU CONCEITO DE VIDA MUDARIA.
 
JÁ NA VOLTA, ELE ESTAVA BEM MELHOR E ME AGRADECENDO POR TÊ-LO OUVIDO POR MAIS DE 3 HORAS SEM PARAR, E QUANDO CHEGAMOS ME PROMETEU: HOJE SEREI OUTRO HOMEM, PEDIREI O DIVÓRCIO E VIVEREI A ATENDER MEU TEMPO A ESCUTAR AS ANGÚSTIAS ALHEIAS ASSIM COMO VOCÊ FEZ.
 
NÃO ME COBROU A CORRIDA, E AINDA JUROU QUE JAMAIS SOFRERIA POR ALGUÉM QUE NÃO O MERECIA, QUE NÃO O VALORIZOU.
 
E EU, COM APENAS 18 ANOS DE IDADE, PERCEBI: CONFIAR EM QUE NUNCA SE VIU PODE PARECER PERIGOSO, MAS CONFIAR EM QUE SE ACHA QUE SE CONHECE PODE SER AINDA MAIS DESTRUITIVO.

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Ferrari ou Charrete?

Contam que a travessia de uma cidade para outra levava 40 minutos de charrete. Um senhor, querendo encurtar o tempo, alugou uma Ferrari. Mas foi avisado pelo capiau “Vai levar os mesmos 40 minutos!”.

Impossível, pensou. Como uma Ferrari pode levar o mesmo tempo que uma charrete? Acelerou bastante, estava bem próximo quando não tinham passados sequer dez minutos. “Sabia que era mais rápido!” – comemorou.

Passados dois minutos e o carro quebra num buraco! Após o conserto, retorna à pista, acelera, e pow! – fura o pneu numa garrafa. Passa perigo à beira da estrada, ajeita tudo, volta a correr e bate numa árvore! Não reparou a curva! Mais um ajuste.
Já ressabiado, o motorista resolve ir devagar prestando atenção na estrada, desviando dos perigos, observando o veículo que conduz. Até que chega ao seu destino 40 minutos após a saída!
Encontra o capiau chegando de charrete e ouve:
-Falei? O tempo de duração de nossa viagem é o mesmo. Se acelerar demais vai quebrar, parar, se irritar, se expor a perigos, errar o caminho... seguir o fluxo e não chegar aonde deseja.
A garrafa continha um aviso, a árvore te enviava oxigênio, a curva te desviava dos perigos. Você não entendeu nada. E pior, não admirou a beleza da estrada, não auxiliou quem realmente precisava. Criou um ciclo vicioso de correr, se irritar e quebrar.

O importante é o percurso, e não o destino. Até porque o destino é consequência do percurso. 


quarta-feira, 2 de julho de 2014

Além da cortina



Segundo a Kabbalah, o mundo físico só nos permite enxergar 10% da realidade que nos rodeia.

Ou seja, existe 90% de coisas que não enxergamos. Como se existissem cortinas limitando nossa visão. Achamos que a cortina é toda a realidade. Por isso surgem os questionamentos: “Minha crise não tem solução – Não mereço isso – Fulano é um caso perdido“

Além da cortina, entendemos nossos problemas como verdadeiras oportunidades de evolução, abandonarmos ideias, preconceitos e comportamentos limitados.

Somos a criança que chora por ter que ir à escola. O Pai não vai nos poupar do ensino, gostemos ou não. Convenhamos, criança mimada é insuportável!

O tímido colocado em situação de exposição, reclama, mas não percebe o bem que causará o enfrentamento. O incômodo (trabalho, relacionamento, pessoal) provavelmente é a cortina que está curta demais. Entendamos e ampliemos!

Quantas coisas que julgávamos ruins acabaram proporcionando engrandecimento, liberdade?

Pensar que a vida iniciou e se encerra nesta curta passagem terrestre faz parte dessa visão limitada dos dez por cento.

Ninguém está jogado ao acaso. Se refletirmos e trabalharmos com desprendimento vamos entender que as barreiras tem função de aprendizado e a angústia vai acabar logo ali depois da cortina.