domingo, 8 de abril de 2012

flashes 20.2


(Continuação)
E naquele mesmo dia iniciaram os treinos. Comecei confiante como sempre! Aquela doideira toda não poderia ser em vão, pensava. 

Na medida em que o treino foi passando parece que fui sentindo uma descarga emocional por todo o stress passado. Estava desestabilizado, frágil. Não me reconhecia! As pernas não respondiam. O corpo estava trêmulo, sem forças... e o pior, a cabeça tentando entender tudo aquilo - que nunca havia ocorrido comigo! E foi acontecer logo numa grande oportunidades destas!!


Isso me comia a cabeça, piorando toada a situação.

Eram quinze dias de testes mas no terceiro dia já estava derrotado, entregue. E novamente ninguém falava nada. Nem bom, nem ruim. Eu não existia naquele local. Sem contar o preconceito que os estrangeiros sofriam na concentração. Aos poucos fui sabendo que o Olympique de Marseille estava para ser rebaixado pra segunda divisão. Falido. Era um verdadeiro salve-se quem puder, roubalheira descarada. Muito desorganizado. A imprensa caía em cima, diretores sendo investigados pela polícia, etc.


Percebi que o melhor era ir embora, pois meus pais, sempre em contato comigo, tinham uma outra oportunidade na Espanha. Iria direto. 


Só que a passagem de volta estava marcada para dentro de dez dias. Ao falar com um diretor sobre a minha necessidade de partir naquele momento, ouvi: "Não temos dinheiro para remarcar sua passagem, você vai esperar os dez dias. Só vai embora na data marcada!"


Com aquela grosseira resposta me dei conta que só me restava uma coisa: dignidade.  Não tinha mais nada. O sonho havia acabado, fui totalmente desrespeitado. Estava na merda! 


Liguei o foda-se. De bate-pronto respondi: "vou embora agora! Estava na minha casa, vocês me enviaram as passagens, me trataram muito mal, aliás, vocês tratam mal a todos - principalmente aos africanos (que viviam acuados e sob constante ameaça de serem demitidos)! E agora você me diz que tenho que esperar dez dias!!! Nunca! Estou indo agora na polícia dizer que vocês estão me prendendo aqui e me proibindo de ir embora! Sou estrangeiro e menor de idade! Outra coisa, daqui vou direto pra Espanha!"


Isso tudo em tom de esporro. Da mesma forma que eles se dirigiam a mim. Antes de ir à polícia passei no Centro de Treinamento (estava no alojamento) e paguei geral, com o mesmo discurso, para um diretor nojento que tinha lá. Eles se desesperaram e me pediram um dia. 


A circunstância me fez ver que existem coisas mais importantes que o futebol. No dia seguinte estava embarcando para a Espanha cheio de esperança atrás do meu sonho. Afinal, o show tem que continuar!

Um comentário:

Gabriela Veras disse...

Genial seu blog!