sábado, 17 de julho de 2010

Flashes 15

Tinha acabado de chegar em São Paulo para um time de empresário.  

A estrutura era boa. Todos os jogadores de fora moravam em uma casa grande com arrumadeira, cozinheira etc. Tinha também preparador físico. O tal empresário, ex-jogador do Benfica (Portugal), era o treinador. Diziam que ele era empresário do Roger (ex-Fluminense, atualmente no Cruzeiro e, na época, no Benfica) e de outros famosos.

Tinham duas categorias, juvenil (16 e 17 anos) e juniores (18 anos). Treinávamos todos os dias, de manhã e de tarde. Entre um treino e outro, todos almoçávamos juntos. Éramos uns 40 no total. Carteado, dominó (em dupla), piadas e brigas dominavam nosso ambiente. Quem era bom no dominó tinha moral na concentração.

A idéia era preparar o jogador e vendê-lo para os clubes. Chegava com 18 anos, bem recomendado e com experiência. Era mostrar serviço e sair de lá rapidamente. Pensava que seria uma simples passagem. Ledo engano.

Mas isso não tem a menor importância pra historia. Trata-se apenas de uma ótima lembrança que guardo. Fiz grandes amigos por lá. 

Pois bem. No meu primeiro coletivo, recebo uma falta maldosa de um moleque, baixinho e muito marrento. Em seguida, ele ainda me encara e tenta me intimidar. Considerando o tamanho dele, na primeira oportunidade, lhe dou um carrinho por trás; em seguida, mãozada na cara dele; na outra, cotovelada. Fiz questão de ir assim até o final do treino...

No dia seguinte, depois do almoço "hoje sou eu e ele no dominó!" – disse o agressor, apontando pra mim. Apesar de mal saber as regras do jogo, aceitei. Pensei: “Ou me dou muito bem ou estou ferrado, pois esse cara está querendo me sacanear...” Ele era respeitado na concentração. Era o melhor no dominó, todo mundo queria jogar com ele.

Comecei mal. Com o passar dos dias, ele foi me explicando as técnicas e começamos a ganhar todas as partidas. Formamos uma dupla imbatível e uma amizade verdadeira. 

"Onde você aprendeu a jogar dominó desse jeito???" - perguntei. "Na cadeia" respondeu.

Foi então que descobri sua história. Ele esteve preso por alguns anos e estava em liberdade condicional. Se envolveu num homicídio para ajudar o irmão, ainda preso, que era um grande criminoso em São Paulo. Apesar da cara de garoto, já tinha seus 26/27 anos e estava lá, por caridade do empresário, para tentar se reabilitar e largar o crime.

“O acaso vai me proteger, enquanto eu andar distraído...” 

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