Meu primeiro time na Espanha. Empolgação máxima.
Chego de manhã e de noite a equipe fazia um amistoso de pré-temporada. Começaria, já no jogo, um período de testes. Fui escalado pro banco. Não conhecia ninguém.
Entro no intervalo. Lembro de ter dado um migué na marcação, inclusive tomamos um gol nas minhas costas. Estava mais preocupado em mostrar serviço com a bola no pé. E foi o que fiz. Vencemos o jogo, participei bastante e criamos várias oportunidades. O jogo fluiu bem e a torcida saiu satisfeita. Vale lembrar que, por ser o único brasileiro do time, despertava muita curiosidade na torcida.
Saí muito satisfeito. Vi o presidente rindo a toa. Os comentários foram bons.
No dia seguinte, no café da manhã, o treinador (que não havia falado comigo em momento algum) senta à minha mesa e, sem dar sequer um 'buenos dias', fuzila "É só isso que você tem pra mostrar???" sem me deixar responder, atira "você acha que me engana com esse joguinho ridículo??"
O leite azeda. O queijo fede. E eu, ainda sem reação, continuo calado. Já ele, segue massacrando "Porque você acha que eu devo ficar com você???"
Sem saber o que dizer e, considerando que ainda não dominava totalmente o idioma, falo pela primeira vez "eu quero muito ser aprovado..."
Parece que era tudo o que ele queria ouvir. "Trabalhei por quinze anos no setor de testes do Rayo Vallecano. Lá, chegavam todas as semanas, ônibus lotados de africanos para fazerem testes. Com certeza, eles precisam muito mais do que você. Eu reprovava praticamente todos; isso não me diz nada! Você está com algum problema físico???"
"Estou sentindo uma dor no dedão do pé direito." Até era verdade. Mas a esta altura já nem sabia mais o que dizer... tentei apenas me defender.
"Então vai pra fisioterapia e só sai de lá 100%, ainda que demore meses pra melhorar. Depois você continua o teste garoto." Concordei com a cabeça, até porque, naquela altura, com toda a simpatia demonstrada, não haveria outra solução.
Fui pra fisioterapia. No caminho, dei meia volta, regressei pro hotel, peguei minhas coisas e fui embora. Não tinha tempo à perder. Preferi assombrar em outro castelo...
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