terça-feira, 29 de março de 2011

Cosas de la vida 1


Tem título de novela mexicana. Mas são histórias reais que me foram contadas. Afinal, toda história de vida tem traços de novela mexicana. A vida imita a arte, diz o bordão da Rede Globo.

Que história passou o garçom que te serve, a empregada  que trabalha na casa do seu vizinho, a avó do seu amigo, o menino que vende bala no sinal, o porteiro do seu edifício, o pedreiro que reforma sua casa???

Esta é a nova seção que se inicia.

"Tudo bem?"
"Tô melhorando..." - responde o pai.

Foi com este frio cumprimento que Agostina reviu seu pai, Sr. Tenório, depois de 55 anos.

Já não tinha mais notícias dele. Pensava que havia morrido. Mas não. Ele estava vivo, no interior do Estado, aos 95 anos, muito doente, mas vivo.

Agostina recebeu notícias do paradeiro de seu pai e "te levo lá", disse Sergio, filho da sua patroa. Ele tinha imensa curiosidade sobre o passado de sua querida caseira (sítio da família), que já estava com a família há 55 anos, servindo, em especial, à sua mãe, Dona Rosa.

A chegada de Agostina na casa de Dona Rosa nunca tinha sido bem explicada.

Depois da seca saudação, ficaram lado a lado, e não se falaram mais. Sequer se olharam. Vinte minutos e nada! Agostina é uma mulher muito boa, porém bruta, forte, dessas que parecem não ter sentimentos.

Então, na brincadeira, Sérgio diz pra Agostina: "É bom falar alguma coisa, senão te deixo aí, hein?!?!"

Agostina, então, explode e começa a chorar desenfreadamente... não dizia nada, apenas chorava. Seu pai permanecia imóvel. Sérgio, extremamente preocupado, desculpava-se constantemente.

Ao se recuperar, ela pede: "O sr. deixa eu levar ele?" Diante da situação, Sérgio não consegue negar.

No viagem de volta, no carro,  silêncio durante todas as três horas de trajeto.

Tenório era amigo de infância de Dona Rosa, apesar da grande diferença social. Ela, muito bondosa, permitiu que ele morasse com na casa de Agostina, que ficava nos fundos do sítio.

Altamente curioso, Sergio rondava Agostina, com muito cuidado, na esperança de entender toda aquela história. Até que saiu:

"Meu pai saiu para passear comigo e me trouxe na casa de sua mãe. Eu tinha doze anos. Minha mãe faleceu eu era muito nova.  Ele disse que ia comprar algo na rua, e nunca mais voltou. Só o revi naquele dia que o senhor me levou. Meu pai era um homem muito bonito. Admirava muito ele."

"E você não tem raiva dele???" perguntou Sergio.

"Que nada. Ele fez aquilo porque sabia que Dona Rosa ia cuidar de mim melhor que ele. Hoje, que eu posso, cuido dele. Estou fazendo o mesmo que ele, dando o melhor que posso. Pra mim ele voltou como se estivéssemos naquele dia, como se nada tivesse acontecido. Só não quero ser abandonada de novo. Nem de brincadeira. Isso dói!" 

E saiu, para dar os remédios de Tenório, como se nada tivesse acontecido. Hoje vivem juntos, na casa dos fundos, como se nada tivesse acontecido. Sequer tocam no assunto, está tudo bem resolvido, como se nada tivesse acontecido...   

3 comentários:

Filipe José disse...

Muito bom... isso se chama AMOR incondicional...
Muito bom...

Ju Gomensoro disse...

Para ela, o tempo não foi capaz de apagar o amor e nem de criar mágoas e rancores...muita linda essa história!

Rodrigo Telles disse...

Minha irmã, toda sentimental...rsrs
Mas a história é boa mesmo, você realmente dá para cronista, meu caro....
Abs