sábado, 17 de abril de 2010

Convidados 7





O convidado é especialista, na improvisação, em representar coveiros, açougueiros, lenhadores, estivadores, cangaceiros e outros intelectuais.


Comedor de carne ("o resto é frescura", segundo ele), meu amigo e sósia do Brutus e presidente do bloco carnavalesco "Sobrinhos do Tio Bio", que bomba na festa do momo. Solteirão convicto, ele sempre afirma com todas as letras: "Eu gosto é de bagunça!" 



Mas não se enganem com as aparências, pois dentro deste boêmio/rústico também habita um sujeito muito generoso com quem precisa, romântico e comedor de quiche de brócolis com ricota. É com você, Ribamar de Figueiredo: 

"O dia em que atropelei um táxi.

O fato ocorreu em uma sexta-feira pela manhã, no dia 26 de maio de 2006. Eu estava vivendo um momento profissional delicado, com muita pressão no “sirviço” e posso afirmar que não estava lá muito bem de cabeça. Tudo se configurava para eu assumir o RH de uma área, que eu não fazia a menor questão. Era alguma coisa relacionada a Call Center. Enfim: neste dia, eu apresentaria a minha proposta de trabalho para a tal área ao meu Diretor, com base na minha rica imaginação, capacidade de inferência e um breve diagnóstico que fiz (uns 30 minutos de conversa por telefone, apenas) 

Fui atravessar a Avenida Ataulfo de Paiva, fora da faixa de pedestres, na altura da Praça Cazuza para pegar meu ônibus 438, sem ar-condicionado, quando me deparei com a seguinte situação:

Dois carros se aproximando: um importando na primeira faixa, muito veloz e um táxi na faixa do meio, um pouco mais devagar. Na terceira faixa estava o meu ônibus, que eu precisava pegar! Na calçada estava eu, completamente mal de cabeça, perturbado ou até quem sabe emacumbado (existe esta palavra?). Não hesitei: lancei-me à pista de rolamento correndo como Ben Johnson já sabendo que não ia dar... Consegui vencer o carro importado e escolhi o taxi, que estava mais devagar para me atropelar. Consegui apoiar minha mão direita no capô (a mesma mão cujo dedo já foi quebrado outrora) e projetei meu corpo para frente, utilizando conhecimentos adquiridos no Judô, na época da infância. Cai no chão como o He-Man! Os óculos nem saíram do meu rosto e também não perdi um dos sapatos, como a maioria dos atropelados.

Logo curiosos, populares e curiosos populares chegaram me oferecendo auxílio (o brasileiro é solidário!) e uma gatinha que eu azaro no ponto ficou impressionada com a minha malemolência e agilidade em evitar danos maiores. Mentira! Trata-se de uma licença poética em minha história. De fato ela me olhou com uma cara “fingindo” preocupação e com um subtexto do tipo “que otário, se fudeu”, como a maioria das mulheres da zona sul do RJ. Naquele dia eu vi o meu sonho de conquistar a dama do lotação terminar.

O motorista do táxi parou e se ofereceu para me levar ao Miguel Couto... Não era necessário e logo veio um PM perguntando se eu queria registrar a queixa. Ora, se eu fosse registrar a queixa seria contra mim! Um irresponsável, perturbado, que não sabe nem atravessar a rua e ainda atrasa a vida de um cidadão lutando pelo o seu pão de cada dia! Como não aceitei a carona do cordial motorista de taxi, ele me ofereceu um produto para dor. O distinto, além de motorista, é goleiro, como todo bom brasileiro que dá o seu jeito e se dedica a diversas atividades. Disse que não havia necessidade e ele insistiu destacando as qualidades do remédio: "é produto natural, fitoterápico, não faz mal, passa aí que vai melhorar", disse ele. Figuraça! O PM liberou o motorista e eu pedi desculpas pelo ocorrido. Neste momento lembrei-me que portava em meu bolso um celular Nokia, que apesar de ter sofrido alguns arranhões, funcionou perfeitamente e eu pude ligar para minha casa. Fui levado ao Miguel Couto.

Chegando lá, fui prontamente atendido pela recepcionista, que insistiu para que eu registrasse a queixa. Que mania esse povo tem de registrar queixa! Encaminharam-me para a ortopedia. O doutor solicitou algumas "chapas" e me disse para ir de escada até o segundo andar (filho de uma puta!). Subi as escadas e liguei para o Pery, em busca de orientação. Minha surpresa foi quando ele me disse que Bernardo, seu irmão, cirurgião de cabeça, pescoço, joelho e pé, joelho e pé estava pelo hospital!

Fiz as “chapas” e depois fui me consultar com o Dr Bernardo Peryassu, cirurgião de cabeça, pescoço, joelho e pé, joelho e pé, que me obrigou a urinar para verificar se não estava com alguma hemorragia interna. Tudo bem! Bernardo mediu minha pressão, me receitou um tal de diclofenato, aplicado de forma intramuscular na nádega por uma enfermeira gorda, que o fez em um local reservado, pois disse que eu poderia deixar os enfermeiros boiolas animados, caso mostrasse minha região glútea ali. Fui liberado em seguida, com dores pelo corpo. Antes, porém solicitei “o dia” ao Dr. Bernardo, que disse gargalhando e indignado, que somente a área de assistência social do hospital poderia concedê-lo. Como a fila estava grande, optei por ligar para a minha gerente e informar o ocorrido. Ela me deu o dia, sem que eu precisasse comprovar o acidente.

Fui para casa, recebi a visita de amigos, bebi cerveja com eles e fiquei tomando remédios fortes para a dor. Não guardo sequelas. Hoje sou uma pessoa normal, sem traumas.

O atropelamento me ensinou muito e, como acredito que o conhecimento deve ser socializado, aí vai:

1 – Não corra para pegar ônibus. Eles passam a cada 15 minutos e este tempo não é significativo no quesito atraso no trabalho. Todo mundo dá essa desculpa e ninguém mais liga. Aliás, não pegue ônibus...Trabalhe, compre um carro, alugue uma vaga no Menezes Cortes ou ande de táxi.

2 – Os produtos naturais chegaram para valer! Estão em todos os lugares, até no porta-malas do taxista goleiro.

3 – O Judô da infância – principalmente a técnica do rolamento – é de extrema importância. Só quando precisamos nos damos conta disso. Estimule a criançada a praticar Judô.

4 – Celular Nokia resiste a impacto. Sempre tive aparelho Nokia e sempre terei. O atropelamento foi o responsável pela minha fidelização à marca.

5 – Nem todo atropelado perde um sapato.

6 – Essa história de que você vê sua vida passar em um minuto e anda por um túnel, com uma luz branca no final em situações de morte iminente é mentira. Eu vi tudo preto e um pensamento veio a minha mente: fudeu caralha preta! Vou morrer sem ter ido a Disney.

7 – E para finalizar: mulher não tem pena de quem se fode e nem de quem anda de ônibus."

3 comentários:

Taiyo Jean Omura disse...

concordo com o riba, o rolamento de judô já salvou minha vida também

Taiyo Jean Omura disse...

ae pessoal, esse cara é meio chato, mas é legal

Anônimo disse...

Realmente... grandes ensinamentos para minha vida.

Abs;
Vilano