O convidado da vez é Taiyo Omura. Improvisador, músico, ator, cineasta, poeta, remador, bloggero e japonês, ele é craque no que faz (e no que fuma... dã! desculpem a piada).
O blogg dele "limitedapalavra.blogspot.com" (altas poesias) e sua seção "lembranças", me inspiraram a montar este blogg e a criar a seção "flashes". Temos muito o que aprender com os nossos japoneses. Vamos ver o que vem por aí..
"Uma brincadeira chamada amigo
1994. Senna ainda estava vivo. A seleção, não me lembro bem, era tetra, ou não. O que eu me lembro é do Leblon. O Leblon tinha um charme, uma coisa praiana, picolé Itália de côco, com pedacinhos da fruta perto do palito. Tinha o cara do Dragão Chinês, com sua voz inconfundível. Tinha o cara das balas com o "teleque-teque", aquele pedaço de madeira com um metal que faz barulho. Eu morava pertinho da praia.
Era um japonês moreno, ensolarado, quase um havaiano. O legal era brincar na areia e no mar. Gostava de pisar naquelas areias que ficam duras, quebradiças. Era gostoso, aqueles quadradinhos, tipo gelos de areia, para esfarelar com os pés e com as mãos, com a surpresa de talvez encontrar uma daquelas joaninhas de areia, que eu chamava de fumiga.
A brincadeira "Amigo" era semelhante. Mas tinha uma diferença crucial: necessitava de outra criança. De preferência, um menino de rua, ou pobre, mal vestido. Um daqueles meninos que hoje eu chamaria de pivete. Pois é, eu geralmente brincava com eles. Eram os que aceitavam brincar. Consistia no seguinte: ou eu, ou o outro, íamos para frente do mar. Esperávamos a onda chegar. Quando estivesse bem próxima, com o perigo inevitável do caixote, gritávamos: "AMIGOOOOOOOOOOOOOOO!!!". O que gritou tomava o caixote e, enquanto estava tomando-o, o outro que observava de longe teria que salvá-lo, como num resgate desses que se vê no cinema. Não me lembro muito bem o que acontecia depois. Mas sinto que depois de umas três ou quatro vezes ficávamos cansados. Sem se despedir direito, e talvez nem sabendo o nome do outro, cada um ia pro seu canto. Brincar na praia. Será que nos encontraremos de novo, "Amigos" diversos? Cruzaremos por uma rua dessas, seremos colocados numa situação extrema? Necessitaremos da ajuda um do outro? Uma coisa é certa: cada um foi para o seu lado. A maré sempre leva, e a gente não percebe."
Um comentário:
AMIGOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOO
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