quarta-feira, 25 de junho de 2014

Autoconhecimento


Nossa passagem na terra é uma escola, cuja principal matéria é o autoconhecimento. Conhece-te a ti mesmo!


Aquele que pedir esclarecimento a Deus de suas boas e más atitudes, palavras e pensamentos adquirirá sabedoria para se aperfeiçoar.

Façamos um balanço moral, como um comerciante de suas perdas e lucros, e certamente um lhe resultará mais que outro.

Cuidado com a sabotagem, pois o pão duro se crê econômico; o orgulhoso pensa defender sua dignidade; o vitimista enxerga a culpa no outro!

Cuidado com os sinais, pois a perseguição e o ódio podem ser um pedido de ajuda; a raiva um amor mal compreendido; a agressividade uma profunda carência; um relacionamento quiçá uma fuga.

Na dúvida, imaginemos que a ação que a praticar, será praticada contra nós. Se estamos de acordo, façamos; caso contrário, não! Porque Deus não tem duas medidas para a justiça.

Ouçamos nossos inimigos, pois não têm nenhum interesse em dissimular a verdade. Muitas vezes são colocados para enxergarmos nossas fraquezas, como nenhum amigo faria. Agradeçamos a eles por isso.

A vida que segue após essa nada mais é do que uma continuidade, portanto, comecemos agora mesmo com as modificações, para que esta noite contabilizemos mais lucros que prejuízos!

terça-feira, 24 de abril de 2012

Cosas de la vida 7.1



O resultado positivo do teste de gravidez não foi uma boa notícia para Fábio, o pai. Afinal, ele já não estava mais namorando com Gabriela, tinha apenas 22 anos, sequer havia concluído a faculdade de direito. Não estava no script.

Fabio tinha tudo planejado pelos pais: curtir, se formar, passar num bom concurso público.

Gabriela, a mãe, 36 anos, vivia da ajuda da vó e não aceitava o fim do relacionamento. Tinha até uma passagem mal explicada pela polícia. 

Os pais se prontificaram a pagar uma bela pensão pro menino e alugaram um apartamento próximo. 

Com o nascimento o que a família temia aconteceu. Gabi largou o apartamento foi morar no interior do estado com a avó. 400 Km de distância! Passou a não atender mais os telefonemas e, nos poucos contatos, só admitia visitas aos domingos. Aos poucos, passou a sair aos domingos sem dar explicações. Era uma longa viagem de ida e volta em vão. A situação foi se agravando até que ficaram dois meses sem contato!

Fábio estudou muito sobre o caso e foi à justiça garantir o direito de visitação ao menino.  Liminar concedida, agora poderia ver seu filho todos os finais de semana. Baita vitória. A esta altura, já estava tão envolvido que passou a estagiar num escritório de advocacia especializado em direito de família. 

Quando foi fazer a primeira visita a seu filho, na portaria do prédio o esperava um camburão com dois policiais. Fabio não poderia se aproximar de Gabriela, sob pena de prisão.

Dias antes, Gabriela noticiou na delegacia uma ameaça de agressão e, se aproveitando da Lei Maria da Penha, conseguiu uma ordem judicial para que Fábio não se aproximasse dela. E do menino,  claro, pois tinha apenas sete meses. 

Tudo mentira!!! Que sujeira, Fabio estava alucinado!!! Gabi tocava na pior ferida.  

Como se alguém que não sabe perder pegasse o organizado tabuleiro da vida dele e jogasse pro alto, não deixando uma peça no lugar!!! E era Fábio que tinha de arrumar tudo.

(em solidariedade aos amigos disléxicos, continua numa próxima postagem...)

domingo, 8 de abril de 2012

flashes 20.2


(Continuação)
E naquele mesmo dia iniciaram os treinos. Comecei confiante como sempre! Aquela doideira toda não poderia ser em vão, pensava. 

Na medida em que o treino foi passando parece que fui sentindo uma descarga emocional por todo o stress passado. Estava desestabilizado, frágil. Não me reconhecia! As pernas não respondiam. O corpo estava trêmulo, sem forças... e o pior, a cabeça tentando entender tudo aquilo - que nunca havia ocorrido comigo! E foi acontecer logo numa grande oportunidades destas!!


Isso me comia a cabeça, piorando toada a situação.

Eram quinze dias de testes mas no terceiro dia já estava derrotado, entregue. E novamente ninguém falava nada. Nem bom, nem ruim. Eu não existia naquele local. Sem contar o preconceito que os estrangeiros sofriam na concentração. Aos poucos fui sabendo que o Olympique de Marseille estava para ser rebaixado pra segunda divisão. Falido. Era um verdadeiro salve-se quem puder, roubalheira descarada. Muito desorganizado. A imprensa caía em cima, diretores sendo investigados pela polícia, etc.


Percebi que o melhor era ir embora, pois meus pais, sempre em contato comigo, tinham uma outra oportunidade na Espanha. Iria direto. 


Só que a passagem de volta estava marcada para dentro de dez dias. Ao falar com um diretor sobre a minha necessidade de partir naquele momento, ouvi: "Não temos dinheiro para remarcar sua passagem, você vai esperar os dez dias. Só vai embora na data marcada!"


Com aquela grosseira resposta me dei conta que só me restava uma coisa: dignidade.  Não tinha mais nada. O sonho havia acabado, fui totalmente desrespeitado. Estava na merda! 


Liguei o foda-se. De bate-pronto respondi: "vou embora agora! Estava na minha casa, vocês me enviaram as passagens, me trataram muito mal, aliás, vocês tratam mal a todos - principalmente aos africanos (que viviam acuados e sob constante ameaça de serem demitidos)! E agora você me diz que tenho que esperar dez dias!!! Nunca! Estou indo agora na polícia dizer que vocês estão me prendendo aqui e me proibindo de ir embora! Sou estrangeiro e menor de idade! Outra coisa, daqui vou direto pra Espanha!"


Isso tudo em tom de esporro. Da mesma forma que eles se dirigiam a mim. Antes de ir à polícia passei no Centro de Treinamento (estava no alojamento) e paguei geral, com o mesmo discurso, para um diretor nojento que tinha lá. Eles se desesperaram e me pediram um dia. 


A circunstância me fez ver que existem coisas mais importantes que o futebol. No dia seguinte estava embarcando para a Espanha cheio de esperança atrás do meu sonho. Afinal, o show tem que continuar!

sábado, 31 de março de 2012

Flashes 20.1



Meu pai me liga, eu estava jogando em São Paulo, e avisa: "Chegaram as passagens! Pega o primeiro avião correndo que hoje a noite você embarca pra Marseille, França."


Por fim tinha saído! Foram semanas de ansiedade. Iria ao Olympique de Marseille para uma temporada de quinze dias de testes. Lindo! 

No voo, um detalhe que nem estava na história mas acabo de me lembrar. Ao invés de me imaginar brilhando em campos europeus, sento ao lado de uma senhora que veio falando mal de jogador de futebol do início ao fim. E olha que a viagem é longa!


Que jogador é mal educado, que fala alto, que gosta de pagode, que não fala francês direito,  que só faz zona, etc. Não parava. No final, claro, ela pergunta: "Vai estudar na França?". Não. Jogar futebol, respondi. Mas a vontade era dizer: "Não. Vou matar velhas. E na porrada!" Ela ficou desconcertada.

Chego em Marseille esperando aquela recepção calorosa. Deixei a plaquinha com meu nome na mochila, afinal, quem não me reconheceria???  

Aeroporto muito pequeno. Desembarco. As pessoas vão encontrando seus amigos e parentes.. o aeroporto vai esvaziando... tiro a plaquinha da mochila... não sobra mais ninguém no aeroporto pra esperar quem chega.


Será que ninguém veio me buscar? O desespero começa a bater... coloco  plaquinha no pescoço... quando surge uma pessoa no aeroporto andando rapidamente. Ufa, vieram. Detalhe que não falava nada em inglês, muito menos em francês

Me dirijo a ela, já aliviado, e nem me lembro como, descubro que é a faxineira do aeroporto que, com a delicadeza peculiar dos franceses, me dá um esporro e me expulsa, pois era meia-noite e o aeroporto iria fechar!!!

Fudeu!!! Fudeu mesmo!!! Tinha 18/19 anos, num país estrangeiro, cheio de malas, perdido, sendo expulso do aeroporto, sem ninguém pra me buscar. Fora isso, agora em segundo plano, estava meu teste no Olympique de Marseille que iria por terra caso não chegasse no clube.

Foi quando lembrei que meu pai exigiu que, além da passagem, o empresário enviasse o endereço da concentração e do centro de treinamento. Estava no meu bolso. Saí do aeroporto e peguei o último taxi, que nem sei o que fazia alí, já que fazia tempo que não tinha mais nenhum passageiro no aeroporto.

Chego na concentração e... fechada! Pior, tudo apagado. Era madrugada! 

Por sorte, Robson, brasileiro, que havia chegado no dia anterior estava com insonia, desceu pra beber água, e ouviu um barulho do lado de fora e abriu a porta. Que sufoco!!!

Dia seguinte, mais uma loucura. A concentração estava praticamente vazia. Só Robson e mais uns dois africanos. Era uma sexta-feira e nem sinal de diretor, treinador, jogador, treinamento... ninguém veio falar comigo. Comia, bebia, andava, ligava tv, desligava... se houvesse pulado o muro estaria na mesma situação. Só no sábado fui descobrir que o dia anterior era feriado, por isso o deserto. Vida que segue.

Na segunda começa um movimento normal de clube. A concentração enche. Muitos africanos  e franceses. Só que de novo não sou apresentado a ninguém, ninguém vem falar comigo. Robson, que era mais novo, sai cedo no ônibus do clube e vai treinar. Minha categoria era outra, não tinha ônibus. Fico num vácuo total. Como explicar o acontecido pra alguém?? 

Perdi o primeiro dia de treino. No dia seguinte arrumo uma carona e vou ao centro de treinamento. Me sinto um baita ET. Começo a falar com as pessoas e a tentar explicar o ocorrido. Chego a triste conclusão que ninguém sabia da minha existência, ninguém sabia da minha vinda, ninguém tinha autorizado minha viagem, ninguém sabia explicar como a passagem de avião chegou na minha casa... eu não era ninguém!!! 

E não pensem que as pessoas ficaram comovidas. Era mais tratado como maluco do que outra coisa. Mas, uma vez lá, vamos aos treinos. E naquele mesmo dia começariam os testes. 


Dentro de campo eu seria notado.

(Em respeito aos amigos dislexicos,  continuamos a história numa próxima postagem, 20.2)

sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

Cosas de la vida 6


A notícia da Síndrome de Down na criança deixou Ana, ainda grávida, triste. Logo depois bateu um ânimo, uma força interior buscando conforto e resposta.

"Deus não dá uma cruz maior do que podemos carregar"; "isso não acontece por acaso"; "ela precisa da minha ajuda e não posso abandoná-la"; "isso será uma lição pra mim e pra todos"; "com certeza ela terá muito para me ensinar"... - esses eram os pensamentos que rondavam a cabeça de Ana.

E com o passar dos anos foi isso mesmo que aconteceu. Bruna, sempre alegre, era o xodó da família.


Ana tinha sempre em mente que a doença não poderia abalar a menina. Natação, música, estudos, dança, teatro, balé. Bruna fazia de tudo. Ana estudava a fundo sobre a doença e estava sempre buscando novas idéias e tratamentos para que Bruna se desenvolvesse.

Até que vem uma triste notícia: Bruna, com três anos, estava com LEUCEMIA!

Então começa uma rotina pra lá de dura, agoniante! Meses de tratamento no hospital. Uma alternância entre pequenas melhoras e grandes recaídas que não parecia ter fim!

E Ana, sempre confiante, cada vez mais estudava a doença em busca de soluções.

Até que não tinha mais jeito... o óbito era inevitável... a pequena Bruna já estava em coma por alguns dias. E Ana vendo sua filha partir buscava uma explicação, um sentido...

Até que, entregue, sem forças, Ana simplesmente parou... parou de estudar, de pensar, de controlar...   e se aproximou de Bruna... olhou de perto, ficou perto... teve uma sensação que nunca havia experimentado: estava olhando para a filha e não pra doença!  


Foi ali que ela se deu conta de quanto tempo havia perdido com a doença e quanto deixara de aproveitar a pequena Bruna... até que ela partiu!


Esta foi a maior lição que ela deixou. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Cosas de la vida 5

Chifre em cabeça de cavalo

“Dr. juiz, me prende!”

“Como assim?!?!?!”

“To devendo pensão pra minha mulher. Ela já pediu minha prisão. Eu não tenho dinheiro. Me prende logo, sou advogado e conheço meus direitos!”

Vendo que o sujeito estava convicto e, aparentemente, sob nenhum efeito de drogas: “Então me faz um pedido escrito no processo.” Falou duvidando...

Pedido feito. Ordem concedida. O policial chega na sala com as algemas e...

“Que isso, animal! Pra que algemas?? Não ta vendo que o homem ta indo por livre e espontânea vontade. Você acha que ele vai fugir? Leva ele.” E foram pra prisão no carro do futuro presidiário.

Passados alguns meses, o mesmo homem peticiona ao juiz pedindo autorização para efetuar o pagamento de toda a dívida da pensão e o consequente alvará de soltura.

Dívida paga, homem solto.

Passado outros alguns meses, o homem volta à sala do juiz: “Quero agradecer muito à Vossa Excelência.” E continua: “Você salvou minha vida financeira.”

“Ah?!?!?” – estranhou o juiz.

“Isso mesmo. Eu estava quebrado de grana. Chegando na prisão, fiz amizade com o delegado. Ele gostou de mim e me passou um inventário da família dele. Nos dias de visita, prestava consultoria pros familiares dos presos. Peguei várias ações trabalhistas, dano moral, defesas criminais. E mais, pedi pra minha família mandar uns livros de direito penal e processo penal; passei a dar aulas pro presos. Eles adoravam e me pagavam pra isso. Juntavam cinco, dois, três reais... o que dava. Deu um reforço.  Hoje to cheio de cliente. Devo isso à vossa excelência.”

E saiu!

Sabe aquela história de procurar chifre em cabeça de cavalo? Ele achou! 

Nem Mandela foi tão inspirado...

     

terça-feira, 15 de novembro de 2011

O show tem que continuar!


"O show tem que continuar!". Pra mim é a frase!

O show tem que continuar pro Luciano Huck, que é um gênio! Tem que continuar pro Roberto Justus que, ao que parece, ama o espelho sobre todas as coisas! Não dá pra saborear demais as conquistas porque o show tem que continuar!

O show tem que continuar pro meu pai, que é guerreiro – toma uma tonelada de remédios diariamente - já teve três infartos, sofre de bronquite crônica, enfisema pulmonar, tireóide desregulada... é um sobrevivente. 

Pra Dona Vera, que acabou de perder a filha de 4 anos, portadora de síndrome de Down, após dez meses de luta contra um câncer (a menina passou as últimas 48 horas em coma!). E pro depressivo, que não vê mais sentido em nada.

Cada um no seu tempo... no seu momento... mas, cedo ou tarde, pra estes, o show também tem que continuar!

E é assim mesmo. Novo dia, novas emoções, novas perdas, novos desafios, novas conquistas, novos aprendizados.

E o show da vida tem que continuar, porque lá em cima tem um espectador (e diretor) sedento por emoções: risos, tragédias, suspenses... e nós, como protagonistas, ainda que sem entender, só nos resta dar show! 


sábado, 5 de novembro de 2011

Cosas de la vida 4


Alex Sandro tem uma barraca na praia de Ipanema. Vende bebidas, aluga guarda-sol, cadeira, fica de olho no chinelo do pessoal que vai dar um mergulho etc. Ajuda os vendedores de mate oferecendo uma sombrinha na hora do aperto, emprega, em sua barraca, o pessoal da comunidade onde mora - enfim, um cara trabalhador e querido. Do bem. 

Ocorre que, ao assumir a prefeitura do RJ, Eduardo Paes reformulou toda a orla. Proibiu todos os ambulantes, baniu o altinho e o frescobol, e resolveu, sabe-se lá porquê, limitar o número de  barracas. E nesta, nosso bravo amigo foi jogado, sem prévio aviso e com a delicadeza de sempre, para o Arpoador.

Pô, todo mundo sentiu falta do cara! Ele, deslocado e sem saber o que fazer, criou a maior quizumba! Outros donos de barracas também protestaram. Até que foram à justiça reclamar pelo retorno ao seu lugar de origem.

Não precisa nem dizer que a justiça é lenta e Alex amargou um tempão. Teve dificuldade com tudo. Fornecedores novos, preços novos, espaço novo, clientela desconhecida, concorrência já instalada... "não é justo!" Depois de anos trabalhando duro como pedreiro, sem esperança de uma vida melhor, logo agora que ele conseguiu montar seu negócio, toma, desculpe o termo, uma porrada desta! "Parece que o pão sempre cai com a manteiga virada pra baixo" - pensou. 

O tempo vai passando e, aos poucos, nosso herói vai se habituando, criando seu espaço, se tornando "local". Vai percebendo a dinâmica do ambiente. Em Ipanema os cliente, jovens, consomem pouco e ficam o dia inteiro na praia. No Arpoador, a clientela família consome mais e fica pouco tempo. Preços mais caros e com alta rotatividade de cadeiras e guarda-sois, ele ficou com o sorriso ainda mais fácil. E melhor, a rotina de trabalho acabava bem mais cedo.

A vida melhorou. Mais gente contratada, reformas, investimentos, dentes novos, mesa farta, bicicleta e vídeo-game pros filhos... mais do que ele havia pedido à Deus!

Até que nosso protagonista é surpreendido com a notícia que teria que voltar à Ipanema, em seu posto anterior. É que o processo acabou e, INFELIZMENTE, ele ganhou!

Ainda hoje ele está em Ipanema, contando – com saudosismo – seus tempos de “milionário”.

Pense duas vezes antes de reclamar das mudanças...        

sábado, 29 de outubro de 2011

Aliança


Fato veridico.

Saio do CTI de um hospital (fui visitar um amigo) e... "cadê minha aliança???" 

Mochila, bolsos, carteira... caraca, chegar em casa sem aliança pega muito mal, né? Tá certo que a Renata sabe que em CTI não se pode usar, mas é chatão. Vou dizer o que? Que compro outra?!?!?


Mulher não é assim, tem o simbolismo do casamento, nosso nome... os momentos vividos com aquela aliança; só ela é testemunha de nossas conquistas, dos sentimentos. "Foi a aliança que coloquei no seu dedo no dia do casamento"! Ela é tão marcante que se você a tira, fica a marca no dedo... E custa caro. Pelo conjunto da obra, não se pode perder aliança! 

Comprar outra assim, pra mulher, é o mesmo que você ficar com preguiça de buscar seu filho na casa de um amiguinho que mora na Barra, ou esquecê-lo no judô, e dizer: "relaxa, a gente faz outro" - você é um animal, insensível! Cruel!

Aliança não é celular, que você compra outro e fica tudo certo. Se bem que celular dá um trabalhão porque depois tem que repassar toda agenda de telefones. 


Já aconteceu a mesma coisa,  há um  tempo atrás, e ela me fez desfazer toda a mochila, na recepção do hospital. Bateu um desespero nela. Reviramos tudo vinte vezes, até achar a bendita... pelo menos daquela vez ela estava comigo, viu tudo, não precisaria explicar. Desta não! Eu estava com um amigo, era de noite... 

Fiquei na dúvida se já chegava contando o ocorrido ou, calado, tentava, no dia seguinte, comprar outra - marcar nosso nome, arranhar pra dar uma desgastada, e fazer cara de paisagem.

Contando o ocorrido ia ser ridículo, quem perde uma aliança dentro de um CTI, e duas vezes?!?!? Dizer que fui assaltado e só levaram a aliança, não dá - não ia incluir, pra disfarçar, que também levaram o celular porque depois teria que repassar toda a agenda. Muito menos dizer que ela escorregou pelo ralo enquanto tomava banho, pois ela iria me obrigar a quebrar todo o encanamento do prédio, rua, etc., até achá-lo.  

Por outro lado, como chegar em casa sem nada no dedo? Colocar a argola do chaveiro poderia chamar mais atenção ainda. Quebrar o dedo não era má opção, a tala ajudaria no disfarce.  Mais tranquilo e decidido, dou a última revisada nas coisas e "ACHEI"!

Estava no meu dedo anelar esquerdo, como sempre. Na verdade eu não a tirei, em momento algum, do meu dedo. Mas achei que tivesse tirado, por isso toda a confusão.  

Ufa! E a paz volta a reinar em nosso fofo lar. Em frações de segundos nosso pensamento vai longe... 

terça-feira, 20 de setembro de 2011

Palhaço!



"Curso de palhaço?!?! Precisa disso?!?!? O que que alguém vai aprender num curso de palhaço?!?!?!" - me perguntam muitos amigos... a resposta é muito simples: nada, não se aprende nada! Na verdade, desaprendemos.

Vou tentar explicar. Vamos viajar um pouco...

Lembre-se de uma cena comum da sua infância: no colégio, no play, na rua, na piscina, no clube... um local onde você se sentisse muito a vontade quando criança, aos 4/5 anos. Viva novamente esta situação. De verdade. Aproveite a viagem...

Agora afaste-se de si (como numa levitação espíritual) e se veja de fora, como se você estivesse assistindo aquela criança (que é você mesmo) na televisão, ok?

A criança (você) em seu habitat natural, sem medo, sem vergonha, na mais pura essência. Lembre-se que é você que está ali. Assista a você fazer o que você gosta. Correndo, rindo,  jogando bola, atirando, cantando... sei lá, divirta-se como você sempre fez enquanto criança... aliás, aproveite a diversão, de verdade.

Agora aproxime-se de você, como se você tivesse acabado de chegar naquele local. Veja o estado de espírito e a leveza daquela criança.... Aproxime-se de você mesmo, da sua essência, olhe para você, provavelmente com uma bola, um boneco, uma boneca, ou qualquer outro brinquedo na mão... olhe fixamente pra você.

Você se reconhece??? Se identificou com a criança??? Tomara que sim... 

Agora, aproxime-se ainda mais... e mais... dê um abraço naquela criança, em você mesmo. Sinta o cheiro, a leveza, a inocência da sua essência. 

Pronto, agora, abraçado à sua essência, você está no estado palhaço! Palhaço é um estado de espírito, uma sensação, é VOCÊ desprovido de qualquer ego, desprovido de julgamento alheio, sem medo de errar, em perfeita sintonia com sua essência. É a criação de Deus sem qualquer interferência humana/social.

Quando pinta aquela dor de cabeça (ou TPM), ficamos mal humorados, grossos, sem vontade de falar com ninguém, ou reclamando de qualquer coisa, e nem por isso deixamos de ser nós mesmo, certo?  

Então, no estado palhaço, não se vê doença, dor, dificuldade, pena... só se vê o que tem de bom nas pessoas, nas situações, na vida! Não que o palhaço ignore a existência do que é ruim, apenas descarta e não perde tempo com o que é chato, com o que não lhe traz felicidade na hora. 

Tem coisa mais simples, mais palhaço, mais essência, mais divertido, do que Charlie Chaplin e Chaves?? E quanto mais você conecta sua essência, mais você quer estar próximo a ela - aprecie sem moderação!


Por isso você não aprende nada; apenas desaprende ser este personagem do dia-a-dia.

Não seja cool, seja clown!

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Cosas de la vida 3


A notícia caiu como uma bomba: câncer no sangue (leucemia)! A pequena AB, 6 anos, não tinha ideia da maratona que lhe esperava.

Mudança geral. Ao invés da escola, o hospital; ao invés dos amigos, os médicos e enfermeiros. Saem as brincadeiras entram as injeções. Um duro golpe nela e, claro, na família.  

Mas, criança que se preza não desanima e encara tudo com leveza (adulto é que estraga tudo). O tratamento começa e, junto com ele, a terrível quimioterapia. O hospital compatível com o plano de saúde não tem grande estrutura. 

Passam-se longos meses de internação (sem sair do quarto!!!) e, lamentavelmente, nossa amiga não melhora com a quimio. A solução, então, é o transplante de medula. AB necessita, com urgência, de um doador. Depois de testes, ufa, sua irmã, AC, é compatível e pode fazer a doação que salvará a vida da pequena e, a esta altura, não mais loirinha.

Só que no Rio de Janeiro, apenas o GRAAC, instituição filantrópica, faz esta delicada cirurgia. Imaginem a fila de espera... Outra opção seria em São Paulo, no luxuoso Hospital Sírio Libanês - local acostumado a receber grandes celebridades como o ex-vice presidente e o ator Reynaldo Gianecchini.

O plano dela não cobre o Sírio Libanês. Apenas um laudo médico atestando o grave caso e indicando o pomposo Hospital como única solução salvaria nossa princesa. Parece simples e obvio o laudo, certo? Errado! Com um laudo deste o plano seria obrigado a custear a cirurgia e todo o tratamento num dos hospitais mais caros do país. A conta seria uma fortuna. O plano pressionou o hospital do Rio a não emitir nenhum laudo, sob pena de descredenciamento, o que seria uma catástrofe financeira para o hospital carioca.        

Mesmo colocando o emprego em jogo, Dr. P. - quiçá um anjo da guarda em carne e osso - emitiu o laudo e, na reunião para ouvir o esporro, disse: "faria pela minha filha, faço pela AB, caso discordem é só me demitir!".  

Mesmo com o laudo plano recusou. Mas, diante da prova, não foi difícil para AB conseguir uma liminar determinando sua internação e tratamento no Sírio Libanês.

E lá foi nossa guerreira para São Paulo em mais uma etapa.

Renata (minha dignissíma) que atendia AB como palhaça no hospital do Rio, foi visitá-la em São Paulo. Ao comunicar ao hospital carioca ainda teve que ouvir da diretora: "Que bom!  Então vou preparar uma lembrancinha...". "Legal, AB vai adorar!!!" - respondeu Renata. "Mas não é pra ela, é pro Sírio Libanês... nessas horas sempre é bom estabelecer contatos..." - concluiu a infeliz. Você entregou a lembrancinha? Nem a Renata, que se fez de tonta e se esquivou do assedio da diretora. 
   
Seu tratamento vai muito bem! Ela e a irmã estão em plena preparação para a cirurgia, sendo tratadas como merecem, com status de celebridade! No último sábado (21.8.11) AB recebeu, inesperadamente, duas visitas, que agitaram seu quarto.


Na foto, ela ensina que a vida vai muito além dos limites impostos pelas paredes de um quarto, e garante que quando estiver recuperada a primeira coisa a fazer será um mergulho numa banheira repleta de frutas e pétalas de rosas.


E não é que ela já está ficando com desejos de pop star?!?! 

FORÇA LEUCÓCITO!    

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Excelências à parte 8




Duas histórias que falam de sensibilidade.

1) O proprietário de uma casa recebeu uma intimação da prefeitura, determinando a demolição de seu imóvel - que estava alugado - pois corria risco de desabamento. Então, ele comunicou seu inquilino, que se recusou a sair. 

O proprietário, então, foi à justiça para exigir a desocupação. Temendo o pior, pediu uma liminar. 

O juiz, inexplicavelmente, marcou uma audiência de conciliação (?!?!?!?) para sessenta dias. Mesmo o apelo pessoal do advogado, que insistiu tentando mostrar o óbvio - risco iminente de morte -, foi insuficiente para sensibilizar o magistrado, que se manteve firme como uma porta na tentativa de conciliação (?!?!?!) em sessenta dias (?!?!?!).

Dito e feito. No curso dos sessenta dias, veio um dilúvio e derrubou a casa, matando  esposa e filho do inquilino! 

2) Um marceneiro falece devido a um atropelamento de moto. Seu filho ajuiza uma ação de indenização contra o causador do acidente pedindo pensão de um salário-mínimo (?!?!?!), mais danos morais decorrentes do falecimento do pai. 

Por não ter condições financeiras para pagar custas do processo, o menor pediu a gratuidade de justiça. O juiz, porém, negou-lhe o direito à justiça gratuita, argumentando que ele não apresentara prova de pobreza e, também, por estar representado no processo por advogado particular(?!?!?!).

O garoto recorreu, por não ter a mínima condição de pagar as despesas de um processo. O recurso foi sorteado e caiu para um Desembargador que, acreditem, era filho de marceneiro. Ele deu a seguinte decisão/aula (sobre a gratuidade de justiça):
"Que sorte a sua, menino, depois do azar de perder o pai e ter sido vitimado por um filho de coração duro - ou sem ele , com o indeferimento da gratuidade de justiça que você perseguia. Um dedo de sorte apenas, é verdade, mas de sorte rara, que a loteria do sorteio, perversa por natureza, não costuma proporcionar. Fez caber a mim, com efeito, filho de marceneiro como você, a missão de reavaliar a sua fortuna.
Aquela para mim maior, aliás, pelo meu pai - por Deus ainda vivente e trabalhador - legada, olha-me agora. É uma plaina manual feita por ele em pau-brasil, e que, aparentemente enfeitando o meu gabinete de trabalho, a rigor diuturnamente avisa quem sou, de onde vim e com que cuidado extremo, cuidado de artesão marceneiro, devo tratar as pessoas que me vêm a julgamento disfarçados de autos processuais, tantos são os que nestes vêem apenas papel repetido. É uma plaina que faz lembrar, sobretudo, meus caros dias de menino, em que trabalhei com meu pai e tantos outros marceneiros como ele, derretendo cola coqueiro - que nem existe mais - num velho fogão a gravetos que nunca faltavam na oficina de marcenaria em que cresci; fogão cheiroso da queima da madeira e do pão com manteiga, ali tostado no paralelo da faina menina.
O seu pai foi atropelado na volta a pé do trabalho, o que, nesses dias em que qualquer um é motorizado, já é sinal de pobreza bastante. E se tornava para descansar em casa posta no Conjunto Habitacional Monte Castelo, no castelo somente em nome habitava, sinal de pobreza exuberante.
Claro como a luz, igualmente, é o fato de que você, menino, no pedir pensão de apenas um salário mínimo, pede não mais que para comer. Logo, para quem quer e consegue ver nas aplainadas entrelinhas da sua vida, o que você nela tem de sobra, menino, é a fome não saciada dos pobres.
Por conseguinte um deles é, e não deixa de sê-lo, saiba mais uma vez, nem por estar contando com defensor particular. O ser filho de marceneiro me ensinou inclusive a não ver nesse detalhe um sinal de riqueza do cliente; antes e ao revés a nele divisar um gesto de pureza do advogado. Tantas, deveras, foram as causas pobres que patrocinei quando advogava, em troca quase sempre de nada, ou, em certa feita, como me lembro com a boca cheia d'água, de um prato de alvas balas de coco, verba honorária em riqueza jamais superada pelo lúdico e inesquecível prazer que me proporcionou.
Ademais, onde está escrito que pobre que se preza deve procurar somente os advogados dos pobres para defendê-lo? Quiçá no livro grosso dos preconceitos!
Enfim, menino, tudo isso é para dizer que você merece sim a gratuidade, em razão da pobreza que, no seu caso, grita a plenos pulmões para quem quer e consegue ouvir.

É como marceneiro que voto.
José Luiz Palma Bisson - relator sorteado"
Definitivamente, sensibilidade não se aprende na escola! 

sábado, 30 de julho de 2011

Minha primeira vez


Era muito novo. 

Chego, olho aquela cambada de mulheres, que igualmente me olham. Chamo a atenção no meio daquela mulherada. Acho que pela idade, não é normal um garoto daquele tamanho, naquele local, sei lá... fico tímido pela situação. Mas avanço.

Nas paredes, fotos de mulheres com olhares provocantes. Caras e bocas para instigar o "cliente". No melhor estilo vem-que-tem!  


Até o cheiro era diferente. Confesso que não estava a vontade... sei lá... era muito novo.. todo mundo me olhando... aquele não é um ambiente confortável para um garoto tão novo. Fui na marra. Hoje posso dizer com tranquilidade: "Não queria ir!"


Tinha até uma tabela presa à parede, com o preço para cada serviço oferecido.

A primeira profissional, experiente, se aproxima. Ela vem com cuidado, respeitando minha timidez. "E aí, vai querer o que?"


Bate aquele frio na barriga... olho os preços... lembro que a grana é curta... penso em recuar... duvido se dará certo... enfim respondo: "Passa só uma tesourinha, de leve, em cima, e capricha no penteado". 

Preferi não arriscar no corte, fui no básico mesmo. Afinal, era minha primeira vez em um salão de cabeleireiro. Vejam se gostaram do corte. 




domingo, 24 de julho de 2011

Flashes 19.2

Pois bem. Nosso time de futsal começou a se destacar. Hércules se incomodou com isso e, finalmente, começou a agir. Se incomodou tanto que, às vezes, fazia corpo mole nos jogos. 

Antes, um parênteses sobre o fanfarrão. Eles não era mau caráter. De forma nenhuma. Não nos cobrava nada, aliás, nem ganhava nada. Ele só era enrolado mesmo. Brincava o tempo todo, vivia se iludindo com as coisas, acordava todo dia de bom humor e com a certeza que naquele dia tudo daria certo. Só tinha um problema: não fazia nada para que as coisas funcionassem!

Mas, a partir de então, começou a se mexer. Só que tinha outro problema que nem ele sabia e só descobrimos lá: pela lei, estrangeiro sem passaporte europeu só poderia jogar em times até a segunda divisão. Times da segunda divisão em diante não fazem testes, pois só contratam jogadores de certo renome. O mais próximo que poderiam jogar, seria na quinta divisão (que é time super amador). Eu era o único que tinha passaporte europeu.

Isso deu um baque em todo mundo e estremeceu o relacionamento. Mas continuávamos treinando. O tempo passava... confesso que perdi a noção do tempo... nem me lembro quanto tempo ficamos nesta situação...

Até que apareceu um teste, super-esquisito, no Córdoba, excelente time da segunda divisão. Era longe pra burro, na outra ponta do país. Além de outras esquisitices que não me recordo, tinha que pagar pra poder fazer o teste. É como uma entrevista de emprego paga(?!?!). Eu pergunto: o que é um peido pra quem tá cagado? Fomos!

O deslocamento parecia cena do filme "Pequena Miss Sunshine". Todo mundo amontoado, na dificuldade, mas cheio de esperança. O teste foi, inclusive, divulgado na imprensa. Tinham jogadores de todos os cantos do mundo! Lá, conhecemos Marcio, gente finíssima, outro brasileiro tentando a sorte, que jogava há muitos anos na quarta divisão de Portugal. Lá não tem este problema. Todos jogamos bem. Pessoalmente, fiz um partidaço! Voltamos confiantes.

Foda-se! Depois descobrimos que era a maior enganação, teste fajuto para arrecadar dinheiro. Então o clima começou a pesar... as insatisfações vieram à tona! Rodrigo, o playboy, desde algum tempo já estava muito desanimado, muitos dias nem treinava/jogava. Para azedar ainda mais, todos os times estavam entrando de férias. Que situação...

Não sei como, Roberto (o pastor/sócio/trouxa, digo, investidor), conseguiu pra mim um teste no sub-19 do Rayo Vallecano, time de Madrid. Mais uma vez, me despenquei pra lá (4 horas de viagem) e fiz três testes. Fui aprovado para uma nova temporada de testes com o grupo, que só começaria depois das férias. 

Volto de Madrid com a boa notícia e os amigos vibram. Mas seus olhos denunciavam o desespero. Conto à meus pais a notícia e, no mesmo dia, à noite, embarco de férias pro Brasil, com retorno marcado direto pra Madrid. Foi a última vez que os vi. Depois soube que: 

Missinho e Fabiano largaram Hércules e foram jogar na quarta divisão de Portugal (lá pode) - através de indicação de Marcio, que conhecemos em Córdoba.

Rodrigo abandonou e voltou para o Brasil após uma crise de depressão - se trancou no quarto, apagou a luz  e mal saía para comer. Surtou mesmo! Ficou todo mundo preocupado. Até que o pai mandou ele voltar.

Hércules se separou do Roberto(africano). Parece que a mulher dele (a dentista) deu um basta na brincadeira. A última notícia que tive, Hércules estava em Marrocos, agenciando jogadores. Meu amigo André Torreão foi mais uma vítima de suas lambanças...

Ah, faltou o Gernani, brasileiro que foi achado pelo Hércules. Gernani estava com ele em Marrocos.

Minha vida seguiu. No Rayo Vallecano, depois das férias, ninguém lembrava de mim... mas isso é caso para mais um flashes...


Conforme prometido, segue a foto dos guerreiros. Saudades...    


Eu, o dono da casa que ficamos em Córdoba (sem camisa), Missinho, Fabiano, Marcio, Rodrigo e Hércules (agachado - sempre otimista) 

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Flashes 19.1

Chego em território espanhol e, como combinado, vou direto para a casa de Hércules, um carioca que morava há anos na Espanha e já havia feito de tudo por lá. Em sua aventura como representante, tinha se associado a Roberto, um africano, pastor de igreja, casado com a dominicana Denise - bem sucedida dentista, numa cidade vizinha dalí, Cáceres.

Eles não entendiam absolutamente nada de futebol! A parceria deles era a seguinte: Roberto alugou dois apartamentos vizinhos próximos de sua bela casa. Um morava Hércules e sua família: a mãe Marlene - excelente cozinheira -, a mau-humorada esposa, a recém-nascida, e o gente boa do filhinho, de 3 anos, que só falava portunhol (tinha esquecido o português e ainda não estava alfabetizado em espanhol). Não me lembro seus nomes.

O apartamento ao lado era destinado aos jogadores que viessem, enquanto desempregados. Hércules não conhecia nada nem ninguém, sequer falava espanhol direito. O plano era tentar, na cara (de pau) e na coragem, bater à porta dos clubes e chorar uma vaguinha, um teste.

Gernani, um alagoano que foi tentar a sorte na Espanha, já estava há dois anos por lá, totalmente ilegal. Hércules o encontrou pelas ruas, e o adotou para a família. Quem bancava toda a brincadeira, inclusive as despesas pessoais de Hércules, era Denise que, acreditem, era a única que trabalhava, dentre todos os personagens citados.

Claro que eu só soube deste quadro quando cheguei lá. Morávamos num povoado de 1.000 habitantes, quase todos idosos, o que  dava uma sensação de cidade fantasma. Todos se conheciam, éramos famosos lá.

Pois bem, o tempo passa... e nada de testes. E pior, Hércules ainda aliciava mais jogadores para vir, dizendo ter ótimas oportunidades. E foi nesta ilusão que logo depois chegaram Missinho, Fabiano e Rodrigo.

Missinho era atacante, tipo leve e que joga pelas pontas. Tinha seus 29 anos, com passagens por vários times pequenos do Rio, e com algum destaque no Volta Redonda. Me lembrava dele nas figurinhas de álbum. Era um cara muito engraçado e fazia piada de tudo. Cheio de histórias de boleiro. Me divertia muito com ele. Era solteiro e tinha uma filho pequeno no Brasil, morria de saudades dele.

Fabiano era zagueiro, estilo xerifão. Um Fabio Luciano da vida. Com mais de trinta anos, já havia rodado bastante. De Portugal ao sul do país. Era muito religioso e sua noiva, ex-dançarina do Faustão e agora igualmente religiosa, torcia muito por ele. A foto dela andava sempre na carteira. Ele chorava muito por ela, sempre dizia "assim que eu acertar minha vida, casamos e ela vem!"

Rodrigo era o típico garoto mimado. Não queria nada. Fazia tudo de onda. Na verdade, quem queria era seu pai. E ele ia atrás. Jogou, por influência do pai, na base do Vasco e do Flamengo e, segundo dizia "tinha abandonado porque não estava afim". Era zagueiro do tipo namorador, sempre dava mole pro adversário. Tinha uns 25 anos e afirmava que iria levar a sério, porque sabia que não podia perder mais oportunidades.

Já eu, com 18 anos, tinha caído de paraquedas alí... só queria saber de jogar bola. Achava graça de tudo.

Mais uma vez, o tempo passa... e nada de testes. O momento era ruim, pois estava em final de temporada. Os clubes não abrem testes neste período. A esta altura, por razões óbvias, o clima entre os jogadores e Hércules era ruim.

Então, conversamos e decidimos que nós iríamos correr atrás de tudo. Liderados por Fabiano montamos um plano de treinamento diário (manhã e tarde), formamos um time de futebol de salão - Hércules era o goleiro - e começamos a jogar, inicialmente com times do povoado, depois com times dos povoados vizinhos, e logo com outras cidades. 

Não perdíamos nunca, e isso foi o maior cartaz.  

(Em respeito aos amigos disléxicos, continuo numa próxima postagem (19.2), na qual contarei o destino de todos os personagens envolvidos, inclusive o meu... ah, prometo uma foto de todos)